Desconhecimento do produto e de suas vantagens, preço, e até um certo tabu do transportador e do motorista de caminhão brasileiro em relação à caixa de transmissão automatizada podem ser relacionados como fatores que ajudam a manter uma certa barreira em relação a esta transmissão, que devido sua tecnologia facilita a condução do caminhão, deixa o motorista mais descansado e ajuda a reduzir o consumo de combustível, entre outros itens de interesse dos profissionais do transporte rodoviário. Ricardo Dantas, diretor comercial da Eaton – Divisão de Transmissões e Embreagens, lembra que a caixa automatizada proporciona ao caminhão desempenho da condução de um motorista muito eficiente em qualquer tipo de terreno, mas é preciso mostrar ao transportador brasileiro como esta tecnologia se paga em pouco tempo

Revista O Carreteiro – O assunto sobre caminhões equipados com caixas de marchas automatizadas tem se tornado cada vez mais comum entre os motoristas de caminhão. Na sua opinião, tanto os carreteiros quanto os transportadores brasileiros conhecem as reais vantagens deste tipo de equipamento?
Ricardo Dantas – As reais vantagens das transmissões automatizadas ainda não são conhecidas pelos potenciais usuários brasileiros. É um trabalho a ser feito pelos fabricantes desse produto e pelas montadoras. O custo operacional total precisa ser levantado. Aí é que a tecnologia se justifica.

O Carreteiro – Do seu ponto de vista, por que o transportador brasileiro ainda não usufrui das vantagens da caixa automatizada? Seria preço, desconhecimento ou um fator cultural que pode ter seu tabu quebrado?
Ricardo Dantas – É a somatória de tudo isso. O preço do veículo automatizado é mais elevado do que o veículo mecânico. Como o frotista tem nos caminhões que adquire o seu instrumento de trabalho e receita, o preço maior assusta. Ele não adquire um caminhão para exibir tecnologia e por ela se diferenciar de seus concorrentes, mas sim para viabilizar seu negócio financeiramente. E é justamente aí que o custo inicial mais elevado vai ajudá-lo, ou seja, os ganhos proporcionados pelas caixas automatizadas ao longo de sua utilização compensarão em muito o custo operacional dos veículos mecânicos. Estamos falando em economia de combustível, desgaste prematuro de embreagens e sincronizadores por mau uso, menor manutenção, operação do veículo sempre na condição ideal, menor necessidade de treinamento de motoristas etc. Há ainda fatores não mensuráveis, como diminuição de acidentes pela maior atenção do motorista na estrada, motoristas mais descansados etc.

O Carreteiro – O relevo brasileiro favorece este tipo de equipamento nos caminhões estradeiros?
Ricardo Dantas – Caixas automatizadas são desenvolvidas para bom funcionamento em qualquer relevo e no caso brasileiro é enorme em área, montanhoso, há muitas curvas e – dependendo da rota – com muito trânsito e buracos. Tudo isso exige mais trocas de marchas. Nesse caso, a transmissão automatizada terá o desempenho do melhor motorista sem o cansaço natural que ele sentiria por dirigir longos períodos nessas circunstâncias. A eletrônica não se cansa.

“A caixa automatizada opera como o motorista ideal o faria. Neste caso, o seu uso nivela por cima o desempenho dos caminhões. Por outro lado, o conforto e a segurança que ela proporciona certamente agrada a qualquer motorista”

O Carreteiro – Os transportadores têm reclamado muito da falta de motoristas qualificados para atender suas necessidades. Neste aspecto, você admite a idéia de que a caixa automatizada traria benefício para os dois lados: os transportadores obteriam o desempenho desejado de seus caminhões e os motoristas mais novos, ainda não acostumados a caixas manuais e suas várias marchas, teriam à disposição um equipamento automatizado que eliminaria o problema de tantos engates manuais?
Ricardo Dantas – Sim. A caixa automatizada opera como o motorista ideal o faria. Neste caso, o seu uso nivela por cima o desempenho dos caminhões. Por outro lado, o conforto e a segurança que ela proporciona certamente agrada a qualquer motorista.

O Carreteiro – Você tem alguma estimativa de quantos caminhões rodam hoje no País com caixa automatizada?
Ricardo Dantas – As primeiras transmissões automatizadas foram lançadas no Brasil há anos por montadoras que já comercializam este produto em seus mercados de origem, tais como Scania e Volvo. Nossa estimativa é de que atualmente aproximadamente 500 unidades estejam rodando pelas estradas brasileiras.

O Carreteiro – A Eaton – através de sua divisão para veículos pesados – tem este produto desenvolvido há anos e com sucesso entre os transportadores norte-americanos. A empresa está com alguma ação em andamento para trazer este produto para o mercado brasileiro?
Ricardo Dantas – Temos opções de caixas com dois e três pedais disponíveis, e estamos em desenvolvimento com montadoras.

O Carreteiro – Caso haja algum programa de demonstração em andamento, e que envolva transportadores, o que eles dizem a respeito do produto?
Ricardo Dantas – Temos dois caminhões circulando com transmissão Eaton automatizada de três pedais há pelo menos cinco anos com um frotista. Nunca houve uma reclamação, muito pelo contrário. Nunca fomos chamados para reparo e o veículo apresenta economia de combustível.

“Temos dois caminhões circulando com transmissão Eaton automatizada de três pedais há pelo menos cinco anos com um frotista. Nunca houve uma reclamação, muito pelo contrário. Nunca fomos chamados para reparo e o veículo apresenta economia de combustível”

O Carreteiro – O modelo brasileiro de montagem e de venda de caminhões – em que as opções de escolha do cliente em relação ao trem de força são muito pequenas – seria também uma barreira para a caixa automatizada?
Ricardo Dantas – Não acredito, pois as montadoras têm diversas opções manuais para um produto automatizado na mesma família. O veículo equipado com a caixa automatizada deverá ser oferecido por aqui como uma opção.

O Carreteiro – Caso o mercado brasileiro adote a caixa automatizada em razão de suas vantagens em relação à caixa mecânica, a Eaton considera a possibilidade de vir a produzi-la no Brasil?
Ricardo Dantas – Sem dúvida alguma. Temos capacidade de produção e tecnologia de manufatura para isso.

O Carreteiro – O que a Eaton teria a oferecer ao mercado brasileiro?
Ricardo Dantas – Transmissões médias e pesadas automatizadas, ambas já disponíveis e aprovadas pelo mercado norte-americano. A Eaton também já desenvolveu e tem em produção e comercialização transmissões híbridas, que são um passo além da automação, conforme temos falado. Em ambos os casos, o que os usuários perceberão não é o produto em si, mas os benefícios que ele proporciona. Estamos falando de economia de combustível, maior segurança e atenção na estrada, maior durabilidade de itens de desgaste, facilidade de recrutar motoristas etc. Tudo isso se traduz em reduções de custo para o frotista. Já para o motorista, os benefícios são conforto, segurança e facilidade de manuseio.

O Carreteiro – Apesar de a transmissão automatizada já ser oferecida no Brasil pela Scania e Volvo há algum tempo, a impressão que se tem é a de que ainda se trata de um produto desconhecido pela maioria dos profissionais da área de transporte. Você não acha que o volume de caminhões equipados com caixa automatizada deveria ser um pouco maior? O que está faltando?
Ricardo Dantas – O preço inicial assusta. Está faltando mostrar ao usuário como a tecnologia se paga em pouco tempo.