Por Evilazio de Oliveira

O resultado positivo das vendas de caminhões no primeiro trimestre deste ano, principalmente em março – mês que apresentou resultado superior a 8,6 mil caminhões vendidos, 33% a mais do que no mês anterior – teve dois motivos: a colheita da safra de grãos e a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), tributo que representa 5% do valor do caminhão novo. Para um caminhão de R$ 300 mil, a medida representa um desconto de R$ 15 mil. Sem saber que a redução seria prorrogada, em algumas regiões, clientes correram às lojas para aproveitar o desconto.

Itamar Zanette, da Brasdiesel, não pensa na crise e diz que seus vendedores saem dos gabinetes e batem de porta em porta para oferecer caminhões
Itamar Zanette, da Brasdiesel, não pensa na crise e diz que seus vendedores saem dos gabinetes e batem de porta em porta para oferecer caminhões

De acordo com presidente da Fenabrave, Sérgio Reze, mesmo com essa recuperação, a perda do setor de caminhões é grande. “Não tem frete e as pessoas não vão fazer o investimento, nem comprar enquanto a economia não der um bom sinal de que vai ficar estável”, afirma. Para o presidente da NTC&Logística (Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística), Flávio Benatti, o movimento já caiu cerca de 40%, sendo mais sentido pelas empresas que trabalham com transporte para exportação, isso por causa de alguns mercados que também reduziram bastante os seus negócios.

A queda nas vendas de caminhões para o exterior em decorrência da crise econômica tem favorecido o mercado interno, que desde o ano passado obrigava os compradores a aguardar na fila para o recebimento dos veículos. A chamada “demanda reprimida” interna passou a ser atendida com mais eficiência a partir do anúncio da “crise”, embora alguns compradores se mostrassem cautelosos na efetivação de novos negócios. Todavia, segundo afirma o diretor da concessionária Scania Brasdiesel S.A., Itamar Fernando Zanette, “se para uns existe crise, para outros existem oportunidades”. Aos 46 anos, 23 na Brasdiesel – primeira concessionária Scania do País – ele lembra que em 2008 transportadores e autônomos aproveitavam o bom momento para a ampliação da frota, resultando na falta de caminhões novos para entrega imediata. Neste ano – explica – os transportadores estão optando pela renovação.

Na época da safra acontece um aumento considerável de consultas para aquisição de caminhões extrapesados, garante o representante da Mercedes-Benz, Sérgio Triska
Na época da safra acontece um aumento considerável de consultas para aquisição de caminhões extrapesados, garante o representante da Mercedes-Benz, Sérgio Triska

Com a atual turbulência mundial da economia, e o fechamento dos mercados internacionais, Itamar Zanette está feliz, entregando todos os pedidos que tinha em carteira e intensificando a venda para novos clientes. Lembra que agora os vendedores saem dos gabinetes e vão bater de porta em porta, oferecendo caminhões. “Pra nós não existe crise, vamos trabalhar mais e com mais vigor”, afirma. A redução no IPI inegavelmente tem servido para incentivar as vendas por causa dos descontos no custo final do caminhão, todavia, como essa redução de preços atinge também o veículo usado e as avaliações nas trocas costumam ficar bem abaixo do valor estimado pelo cliente.

Com quatro lojas no Estado (Caxias do Sul, Garibaldi, Lajeado e Ijuí), a Brasdiesel é a maior e mais antiga parceira da Scania no País, sendo responsável por 14% das vendas de caminhões e de mais de 50% de veículos retirados através do consórcio. Atende a 300 municípios da Região da Serra, com uma produção diversificada e que inclui indústria e agricultura. Por isso, quando um setor vai mal ou outro vai bem, o resultado final da economia regional sempre fica equilibrado.

O consultor de negócios da Dipesul, Enio Moraes, destaca que a maioria dos carreteiros que atuam no transporte internacional tem aproveitado o período da safra na Região Sul
O consultor de negócios da Dipesul, Enio Moraes, destaca que a maioria dos carreteiros que atuam no transporte internacional tem aproveitado o período da safra na Região Sul

Itamar Zanette ressalta que a Scania detém 20% do mercado de pesados no Brasil e, na Região Sul, essa participação chegaria aos 40%. No caso da Brasdiesel, em 2008 foram entregues 506 caminhões, volume que poderia ter chegado aos 700 se houvesse oferta. Para 2009 – explica – a estratégia é fazer uma varredura total visando ao atendimento dos atuais clientes, ao mesmo tempo em que trabalha na conquista de novos compradores para os caminhões da marca.

A Brasdiesel se orgulha de contar com uma fidelização muito grande de autônomos e pequenos transportadores, característica que se mantém desde o início da empresa. Por isso, segundo Zanette, desde o mês de outubro – em plena crise – foi a concessionária Scania que mais faturou. “A crise nos favoreceu”, garante. E ressalta que ao longo dos 51 anos da empresa foram superadas muitas crises. “Portanto, estamos acostumados a trabalhar nos períodos difíceis”. Outra ferramenta muito importante nas vendas de caminhões é o consórcio, responsável por uma carteira com mais de 1 mil cotas contempladas, garantindo as vendas futuras e representando cerca de 50% das entregas. O consórcio – conclui – é uma boa estratégia em momentos de crise. Para o gerente-geral do escritório da Regional da Mercedes Benz, em Porto

Otimista com o mercado de caminhões, Rafael de Azevedo, da Konrad, destaca que ter jogo de cintura para atender as necessidades do cliente ajuda muito
Otimista com o mercado de caminhões, Rafael de Azevedo, da Konrad, destaca que ter jogo de cintura para atender as necessidades do cliente ajuda muito

Alegre/RS, Sérgio Triska, o resultado da safra influi bastante na decisão de compra de um novo caminhão. Ressalta que nesta época acontece um aumento considerável no volume de consultas para a aquisição de modelos extra-pesados. Não sabe avaliar se essas consultas acabam se concretizando em negócios. “Pelo menos aumenta o barulho”, brinca.

Segundo ele, 2008 foi um ano atípico, quando o mercado esteve aquecido com muitas vendas efetivadas. No entanto, com o anúncio da crise econômica, o mercado entrou numa nova realidade. E, com a redução do IPI, favorecendo a venda de caminhões novos, também houve a consequente redução na avaliação dos usados, fator que atrapalha um pouco para o carreteiro que quer botar o seu caminhão na troca. Todavia, dentro desta nova realidade de mercado, com o resultado favorável da safra e a redução no IPI, acredita-se que as vendas fiquem próximas aos índices de 2007, o que efetivamente significará um bom resultado. Salientou que estão sendo realizadas campanhas para o incremento de vendas nas concessionárias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O consultor de Negócios da Dipesul Veículos Ltda., concessionária Volvo em Uruguaiana/RS, Enio Steeffens Moraes, destaca que com a redução de negócios do Brasil com os países do Mercosul, em razão da crise internacional, está sobrando caminhões nas estradas brasileiras. A maioria dos carreteiros que atua no transporte internacional aproveita o bom resultado da safra para trabalhar no transporte do arroz, na região. Outros, com caminhões maiores, preferem seguir para o Mato Grosso.

Acredita que com esse quadro fica muito complicado para o autônomo comprar um caminhão novo, pois, além das dificuldades de crédito, há a incerteza sobre a garantia do frete e o consequente pagamento das mensalidades. Salienta que o pessoal tem cotado bastante os preços, mas sempre na dependência de antes vender o usado para depois comprar o novo. Lembra que o valor do usado caiu junto do valor do novo, diminuindo a avaliação na hora da troca. Apenas os grandes transportadores estariam fazendo a renovação de frota, conforme estima.

A Dipesul tem sede em Canoas/RS e filiais em Pelotas, Caxias do Sul, Lajeado, Carazinho e Uruguaiana, sendo que o maior número de vendas de caminhões novos e usados é realizado em Canoas, enquanto na unidade de Lajeado são vendidos mais usados. No contexto geral – segundo Enio Moraes – a empresa não sentiu muito a crise, pois o mercado interno continua aquecido. Garante que o mês de março foi o melhor dos últimos anos em vendas, tanto que abril pode estar comprometido com uma eventual falta de veículos para entrega imediata. Salienta que tudo depende do segmento em que o transportador atua, pois se algum tipo de mercadoria tem pouco giro haverá o aumento em outro, movimentando a economia.

Na unidade de Sapucaia do Sul/RS, da Konrad Comércio de Caminhões Ltda. – concessionária Ford – Rafael Roberto de Azevedo, do setor de vendas – está otimista, apesar da crise, “pois a empresa continua vendendo”. Ressalta que a venda de usados caiu bastante, por causa dos reflexos da redução no IPI e dos melhores preços para a compra do caminhão novo. Mesmo assim, quem busca financiamento tem dificuldades em razão das exigências dos bancos e financeiras, tornando a compra do primeiro caminhão cada vez mais difícil, acentua. Ele acredita que quem tem dinheiro disponível não está comprando neste momento, numa atitude cautelosa diante das oscilações do mercado.

O Grupo Konrad – com sede em Cascavel/PR – é formado por 11 distribuidores Ford nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Segundo Rafael de Azevedo, com a entrada da safra surge a possibilidade de novos negócios. Afirma que uma das características da empresa é ter muito jogo de cintura no atendimento ao cliente, procurando suprir todas as suas necessidades. Afinal, com jogo de cintura e com um bom produto para trabalhar, as coisas ficam mais fáceis.

De acordo com Jorge Carrer, gerente regional de vendas de caminhões Volkswagen para a região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), o Rio Grande é um Estado dependente da agricultura, e isso faz com que a safra tenha grande influência nos negócios, principalmente nas vendas de caminhões. Este ano, por exemplo, a produção de soja e outras commodities estão subindo, e este evento tem dado fôlego para os produtos, com forte tendência para alavancar as vendas de caminhões.

“O primeiro trimestre deste ano foi bom, melhor do que o mesmo período no ano de 2007. Fatores como o crédito mais fácil do que no final de 2008 e a isenção de IPI provocaram um bom reflexo no mercado de caminhões”, disse Carrer. Como pensa muita gente do setor, ele também considera 2008 um ano atípico, por isso prefere tomar como base o ano anterior (2007) e garante que 2009 será ainda melhor. “Para nós que trabalhamos com a marca Volkswagen está sendo bom e temos boas expectativas para este ano”, finaliza.

José Nelson Leal, superintendente controladoria da Bivel Veículos Ltda, de Canoas/RS – concessionária Iveco para Porto Alegre, Região Metropolitana, Caxias do Sul, Vale do Taquari e Litoral Norte do Rio Grande do Sul – acrescenta que uma boa safra faz a economia girar, pois a produção sai da lavoura por meio de transporte rodoviário.Ele destaca a importância do caminhão no processo desde a colheita, com o transporte dos grãos para os silos de armazenagem, de onde mais tarde o produto necessitará ser retirado e encaminhado para a indústria, atacadistas ou exportado. “Se for conduzido para a indústria, após a industrialização terá de ser distribuído para atacadistas ou para o comércio varejista, e sempre haverá a cada processo e necessidade de transporte, o que torna o caminhão indispensável na cadeia deste processo”, diz, reafirmando que uma boa safra é, sem dúvida, uma excelente oportunidade de negócio para o setor de veículos de carga e a economia em geral.