Por  Daniela Giopato

De acordo com números divulgados nos últimos anos pelo Departamento da Polícia Rodoviária Federal de Minas Gerais, as rodovias do Estado se destacam entre as mais perigosas do País. Pelos dados da PRF, no ano passado foram computados nas rodovias federais 25.072 acidentes, um crescimento de 11% em relação aos 22.585 registrados em 2008. Em outra análise, os acidentes ocorridos em todo o Brasil nas federais, que somaram 158.621 ocorrências durante 2009, representam pouco mais de 15,8% dos casos registrados em Minas.

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Outro problema que os motoristas enfrentam nas rodovias mineiras é o grande fluxo de veículos de passeio e de carga

Para o Inspetor Amaral Junior, do DPRF/MG, alguns fatores contribuem para que o número de acidentes nas rodovias mineiras aumente anualmente. Entre eles o fato de Minas Gerais ter a maior malha rodoviária do País e fazer a ligação entre muitos Estados e também pelo fato de praticamente 90% das estradas serem de pista simples de mão dupla. Condições geográficas como o relevo acidentado – com muitas serras e montanhas – também contribuem para garantir a insegurança na malha viária do Estado.

Na opinião do vice-presidente de Logística da NTC&Logística e presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Costa, outro problema que deve ser levado em consideração é a falta de investimento nas rodovias mineiras nos últimos anos. “Essa situação compromete o desenvolvimento e eleva o custo do Brasil, além de onerar os gastos dos Ministérios da Saúde e Previdência, já que toda vítima de acidente é encaminhada ao SUS, que gasta com recuperação”, opina. Durante o ano passado, 16.503 pessoas ficaram feridas e 1.214 morreram em acidentes nas rodovias do Estado, conforme dados da DPRF/MG. “É preciso priorizar o investimento na melhoria das condições de segurança das rodovias”, complementa.

Em 2009 foram computados 25.072 acidentes nas rodovias federais e desse total 17.052 aconteceram somente nas BRs 040, 116 e 381
Em 2009 foram computados 25.072 acidentes nas rodovias federais e desse total 17.052 aconteceram somente nas BRs 040, 116 e 381

A situação é mais crítica – por conta do grande movimento de veículos e péssimas condições de tráfego – em trechos da BR-040 e BR-116 e toda a BR-381, perfazendo um total de 2.066 quilômetros, que estão incluídas entre as prioridades do Programa de Aceleração e Crescimento do governo federal. Em 2009, as três BRs – aonde segundo o DNIT o fluxo diário é de aproximadamente 40 mil veículos – foram registrados 17.052 acidentes com 685 mortes, números respectivamente 11% e 3% maiores do que em 2008, quando ocorreram 15.320 acidentes e 664 óbitos, segundo a DPRF/MG.

Para Vander Costa, de imediato seria importante a sinalização dos pontos críticos, com alertas da necessidade de reduzir a velocidade nas curvas, instalação de radares e sinalização diferenciada para os veículos de carga. “Nosso Estado aparece nas manchetes dos jornais como o campeão em acidentes nas estradas. Somente na BR 381, no trecho entre Belo Horizonte e Governador Valadares são registrados 2.700 acidentes anualmente, com 140 mortes, de acordo com os dados da Polícia Rodoviária Federal”, lembra.

Ultrapassagens perigosas e falta de acostamento são comuns nas rodovias; na foto trecho pouco acima do trevo de Caeté no sentido JM-BH
Ultrapassagens perigosas e falta de acostamento são comuns nas rodovias; na foto trecho pouco acima do trevo de Caeté no sentido JM-BH

Os problemas das BRs -040, 116 e 381 são apontados pela pesquisa CNT e potencializados pela falta de investimento público e também devido ao relevo acidentado de Minas Gerais, caracterizado por montanhas, conforme explica. “Na BR 040, por exemplo, existe pouco mais de 100 quilômetros duplicados, ou em fase de conclusão, e faltam balanças, fiscalização e conservação. Isso acontece mesmo no trecho duplicado entre Belo Horizonte e Sete Lagoas, ou em obras até o trevo de Curvelo”.

Pista simples de mão dupla e grande tráfego de veículos de carga é uma combinação perigosa e que resulta em muitos acidentes
Pista simples de mão dupla e grande tráfego de veículos de carga é uma combinação perigosa e que resulta em muitos acidentes

No Estado de Minas Gerais existem trechos pontuais muito críticos, como é o caso das alças do Viaduto das Almas (na BR 040), em funcionamento há mais de um ano e que faz a ligação entre Belo Horizonte ao Rio de Janeiro, que ainda não foram construídas. “É uma situação impensável construir um viaduto sem projetar suas alças de acesso”. Na sua opinião, é também necessário a instalação de balanças na BR 040 para proteger a rodovia já duplicada, sinalização educativa e informativa nos locais onde é alto o índice de acidentes e o controle de velocidade.

A assessoria de imprensa da Casa Civil explica que as obras de duplicação da BR 040 entre o Trevo de Curvelo e Sete Lagoas já estão em andamento, e os acessos do Viaduto de Vila Rica estão previstos para serem concluídos ainda este ano. Além disso, foram incluídas no PAC 2 as obras do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, no trecho já existente e no trecho sul.

Condições geográficas como o relevo acidentado com muitas serras e montanhas contribuem para comprometer a segurança na malha viária do Estado
Condições geográficas como o relevo acidentado com muitas serras e montanhas contribuem para comprometer a segurança na malha viária do Estado

Em relação à BR-381, duplicada no percurso Belo Horizonte – São Paulo, Vander Costa acredita que o atraso na cobrança de pedágio contribuiu para a falta de conservação e atualmente a pista apresenta diversos pontos críticos, com destaque para as cabeças de pontes que se tornaram verdadeiras armadilhas para quebrar molas. “Temos nesse percurso o trecho que mais mata em Minas Gerais, de Oliveira a Pouso Alegre. Falta fazer correções de curvas com tangências contrárias e implantar sinalização da região da serra para alertar os motoristas do risco existente no local”, explica. No sentido contrário, ligando Belo Horizonte ao Vale do Aço, o trecho é conhecido como “rodovia da morte”, por ser uma estrada sinuosa, com mais de 150km de curvas seguidas e trânsito muito intenso de veículos de carga.

A Casa Civil informou ter concluído as obras de melhoria e adequação nessa rodovia, no acesso a Antônio Dias, além de obras em andamento e devem ser finalizadas em 2010 no trecho de Nova Era e no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Também está incluído no PAC 2 o projeto de duplicação da pista entre Belo Horizonte e Governador Valadares.

Já a BR-116, conhecida como Rio-Bahia, corta todo o Estado de Minas Gerais, em pista simples de mão dupla com grande tráfego de veículos de carga. Para Vander Costa, a rodovia deveria ser duplicada, sinalizada e recuperada em caráter de urgência. A Casa Civil justifica que apesar de não ter sido incluída obras de duplicação no PAC, desde 2007 têm executado serviços de conservação e recuperação por meio de contratos que cobrem mais de mil quilômetros da BR-116.

O fato é que todos os trechos apresentam problemas e requerem investimentos, sendo que várias estradas são mais dispendiosas devido ao traçado deficiente e o grande número de curvas perigosas. Outras obras do PAC, em Minas Gerais, conforme informação da assessoria de imprensa da Casa Civil, foram concluídas como a construção da BR-146/MG Patos de Minas/Araxá e as duplicações da BR 050/MG, entre Uberaba e Uberlândia, e da BR 153/MG, entre a divisa com Goiás e o Trevão da BR 365/MG. Em relação às obras da BR 040, já em andamento, e da BR 381- com previsão de início para 2011-, deverão ser duplicadas e receberão pontes, viadutos e passarelas.

Das três rodovias apenas parte da BR-040, que liga o Estado ao Rio de Janeiro (179,9km) e da BR-381, que liga Minas a São Paulo (562,1km) estão privatizadas. Atualmente, o Estado de Minas Gerais tem 1.113,4 quilômetros de rodovias concedidas, sendo 742 quilômetros de rodovias federais, conforme informações da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) e 371,4 km estaduais (MG 050, entre Juatuba e São Sebastião do Patrocinio, através de Parceria Público Privada- PPP), segundo o DER/MG. Mas Vander da Costa tem opinião de que existem rodovias no Estado em que a solução não é a privatização imediata e sim a duplicação, como é o caso da BR-381.

PACTO PELA SEGURANÇA

Para tentar mudar o comportamento da sociedade mineira condutora de veículos e reduzir em 40% o número de mortes causadas por acidentes envolvendo caminhões nos próximos três anos, a Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais (Fetcemeg), em parceria com o Instituto Cuidando do Futuro, lançou dia 23 de março o Pacto Rodoviário Mineiro. A ideia é tirar o condutor da zona de conforto e torná-lo um agente responsável no trânsito.

Apesar de várias justificativas para o alto índice de acidentes – como o fato de Minas Gerais ter a maior malha viária, falta de manutenção e fiscalização nas rodovias, relevo acidentado, entre outros, pouco se faz para reduzir o número de acidentes. “O pacto propõe outra atitude. Os acidentes acontecem, mas por outro lado no mesmo dia e nas mesmas condições climáticas e de infraestrutura outros veículos e caminhões trafegam sem provocar nenhum incidente. Entendemos que o caminho é a conscientização do empresário, embarcador ou transportador autônomo”, destaca Vander Costa.

O Pacto é um movimento de adesão voluntária, sem custo, de pessoas que querem se comprometer com mudanças de atitude para evitar acidentes nas rodovias. Atualmente o pacto conta com a adesão de 88 empresas.

Pacto: regras básicas reduzem os acidentes e evitam as mortes
• Respeito à legislação de trânsito principalmente no controle de peso e velocidade
• Reduzir a velocidade nos trechos de curva
• Manutenção preventiva rigorosa nos itens de segurança dos veículos
• Controle do tempo de direção fazendo paradas para descanso e relaxamento a cada 4 horas e tendo um período de sono tranquilo diariamente
• Planejamento de viagem, identificando os trechos de maior risco. Ter uma direção segura e defensiva para preservar sua vida e dos outros usuários da estrada